Setor Varejista Cobra Tributação das Apostas Online: Impacto das Bets na Economia Familiar Preocupa
Introdução
O avanço das apostas online, conhecidas como bets, tem gerado intensos debates sobre seus efeitos colaterais na economia brasileira. Durante a abertura da 44ª Convenção Nacional e Anual do Canal Indireto da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), realizada em Atibaia (SP), o presidente da entidade, Leonardo Miguel Severini, fez um alerta contundente: as plataformas de apostas estão comprometendo o consumo de bens essenciais, afetando o poder aquisitivo das famílias e promovendo um ciclo de endividamento.
Severini defende maior tributação sobre o setor e restrições à publicidade das bets, comparando o impacto social das apostas ao de produtos como cigarros e bebidas alcoólicas. Segundo ele, trata-se de um vício que deve ser regulado com rigor.
O Crescimento do Setor Varejista e o Alerta de Estagnação
Números do Atacado e Distribuição
Apesar de um início de ano promissor, o crescimento do setor de atacado e distribuição dá sinais de desaceleração. Conforme levantamento da Nielsen IQ:
Mês | Crescimento (%) |
---|---|
Janeiro | 8,0 |
Fevereiro | 6,7 |
Março | 8,4 |
Abril | 4,4 |
Maio | 3,6 |
Embora o acumulado de janeiro a maio de 2025 tenha registrado alta de 9,1%, as quedas consecutivas nos últimos meses levantaram preocupações. A previsão para o ano inteiro é de 7% de crescimento, frente a uma inflação estimada em 5%.
“O bolso é o mesmo”, destacou Domenico Tremarolli Filho, diretor da Nielsen IQ, referindo-se ao conflito entre gastos em apostas e consumo de bens essenciais.
Apostas Online: Vício Moderno e Ameaça Econômica
As Principais Preocupações da ABAD
Durante seu discurso, Severini destacou uma série de impactos negativos das apostas online:
- Redução da frequência nos pontos de venda
- Comprometimento da renda familiar
- Endividamento crescente
- Inadimplência em alta
- Evasão de recursos para o exterior
- Concorrência injusta com o comércio legalizado
“O que não está certo é o impacto na saúde das pessoas. É um vício como outros. Precisa ter mais regramento, como se tem para outros segmentos que geram dependência”, afirmou Severini.
A ABAD, que representa 3 mil associados e abastece mais de um milhão de pontos de venda, também integra a União Nacional das Entidades de Comércio e Serviços (Unecs), ampliando sua influência no setor econômico nacional.
Impacto Econômico das Bets: Dados Relevantes
De acordo com estimativas da Confederação Nacional do Comércio, as apostas online movimentaram mais de R$ 100 bilhões entre meados de 2024 e maio de 2025.
Efeitos Econômicos Negativos:
Impacto Econômico | Descrição |
---|---|
Redução no consumo | Menos frequência de compra em mercados, farmácias e varejo em geral |
Endividamento | Aumento de uso de crédito para apostas, comprometendo orçamento familiar |
Inadimplência | Falta de pagamento de contas básicas e dívidas em atraso |
Evasão de capital | Lucros remetidos ao exterior por empresas sediadas fora do país |
A falta de uma regulamentação eficaz agrava o problema, permitindo que empresas estrangeiras operem livremente e lucrem sem contribuições fiscais significativas para o Brasil.
Perspectiva Política e Empresarial
Participação de Autoridades
O evento contou com a presença de várias lideranças políticas, como os deputados federais Zé Neto (PT-BA), Da Vitoria (PP-ES), Luiz Gastão (PSD-CE) e Domingos Sávio (PL-MG), além do senador Efraim Filho (União Brasil-PB), que também é presidente da Frente Parlamentar de Comércio e Serviços (FCS) no Senado.
O discurso de todos convergiu na necessidade de:
- Um ambiente de negócios mais competitivo
- Segurança jurídica para empresas brasileiras
- Regulação eficaz e proporcional para as apostas
Apostas: Entre Livre Mercado e Regulação
Embora a ABAD defenda o livre mercado, a entidade reconhece a necessidade de controle sobre setores que geram dependência e prejuízos sociais. “Respeitamos as escolhas individuais, mas o que está acontecendo é grave”, afirmou Severini.
Segundo ele, muitos brasileiros buscam nas bets uma forma de complementar a renda, mas acabam iludidos por promessas falsas. Em vez de lucro, encontram vício, perda patrimonial e frustração pessoal.
Críticas ao Setor: Demonização ou Alerta Justificado?
Especialistas e defensores das apostas online criticam a postura do varejo, afirmando que há uma tentativa de transformar as bets em vilãs da economia. Segundo eles:
- Muitos dados utilizados são enviesados ou imprecisos.
- Há interesses econômicos em demonizar o setor e “idiotizar” os apostadores.
- Parte das críticas ignora a responsabilidade individual no consumo.
Contudo, a falta de fiscalização efetiva e a publicidade agressiva praticada por influenciadores em redes sociais tornam o problema complexo. A linha entre liberdade de escolha e manipulação se torna tênue, sobretudo para jovens e classes sociais mais vulneráveis.
Caminhos para o Futuro: Propostas e Reflexões
O Que o Setor Produtivo Está Propondo?
- Tributação Mais Elevada
- Aplicar alíquotas semelhantes às de cigarros e bebidas alcoólicas.
- Restrição à Publicidade
- Limitar propagandas em horários e locais acessíveis a menores de idade.
- Campanhas de Conscientização
- Informar a população sobre os riscos do vício em jogos.
- Regulamentação Nacional Eficiente
- Criar uma agência reguladora que fiscalize o setor de apostas.
- Fomento à Responsabilidade Social
- Exigir das empresas ações reais de mitigação de danos sociais.
Considerações Finais
O setor varejista brasileiro lançou um sinal de alerta que não pode ser ignorado: as apostas online estão impactando negativamente o consumo, aprofundando a crise de inadimplência e promovendo dependência em milhões de brasileiros. O discurso de Leonardo Severini durante a 44ª Convenção da ABAD foi claro ao chamar o problema pelo nome e propor medidas efetivas de enfrentamento.
Mais do que um ataque ao setor de apostas, a cobrança da ABAD por maior regulamentação e tributação visa equilibrar o jogo — literalmente. Para isso, será necessário diálogo entre empresários, políticos, reguladores e sociedade civil, garantindo que a modernização dos hábitos de consumo venha acompanhada de responsabilidade social e proteção aos vulneráveis